MINERAÇÃO

Vale quer pagar apenas 0,6% do lucro de 2023 para renovar concessão de ferrovias 

Ministério dos Transportes questiona negociação feita na gestão Bolsonaro e pede R$ 25,7 bilhões à empresa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

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Os contratos de concessões de ferrovias que iriam até 2027 foram renovados antecipadamente pela gestão Bolsonaro
Os contratos de concessões de ferrovias que iriam até 2027 foram renovados antecipadamente pela gestão Bolsonaro - Joana Zanotto

Em 2023, o lucro líquido da Vale somou US$ 39,94 bilhões, o que representa 0,6% do que a mineradora pagou à União pela renovação da concessão de suas duas principais ferrovias: a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). As concessões foram renovadas por 30 anos durante a gestão de Jair Bolsonaro. 

Segundo o governo federal, a mineradora pagou um irrisório pelo direito de uso das ferrovias. Para renovar a concessão, a Vale descontou investimentos feitos e não amortizados, pagando apenas R$ 641 milhões para a União. A outorga estava precificada em R$ 15,9 bilhões.

Dizendo seguir uma recomendação que o TCU fez ao ministério dos Transportes, o Ministério dos Transportes pede um valor de 25,7 bilhões à Vale referente a outorgas não pagas na renovação da concessão: são 21,1 bilhões na Estrada de Ferro Carajás e R$ 4,6 bilhões para a Estrada de Ferro Vitória Minas.

Em notificação enviada à Vale no dia 26 de janeiro, o ministro dos transportes Renan Filho ressaltou que a Estrada de Ferro Carajás é altamente rentável, pois é responsável por praticamente todo o transporte da maior jazida de minério de ferro da empresa. Atualmente, é a expansão da operação em Carajás, especialmente o Projeto Ferro Carajás S11D (antigo Projeto Serra Sul), que garante o posto da Vale entre as 5 maiores mineradoras do mundo.

Nos anos anteriores, o lucro da mineradora foi ainda maior: R$ 95,9 bilhões em 2022 e R$ 121 bilhões em 2021. 

Os contratos de concessões de ferrovias que iriam até 2027 foram renovados antecipadamente pela gestão Bolsonaro. A decisão foi tomada sob responsabilidade de Tarcísio de Freitas, então Ministro da Infra Estrutura e hoje governador de São Paulo.

O que diz a Vale

Questionada pelo Brasil de Fato se irá acatar o pedido do governo federal e efetuar o pagamento de R$ 25,7 bilhões à União, a mineradora afirmou que "está em discussões avançadas com o Ministério dos Transportes sobre as condições gerais para a otimização dos planos de investimentos dos Contratos de Concessão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que hoje são regularmente executados pela Vale nos termos estabelecidos e divulgados ao mercado em 16 de dezembro de 2020".

A mineradora também que "informará o mercado caso qualquer compromisso material seja estabelecido no âmbito das negociações, em linha com a legislação vigente".

Edição: Thalita Pires